quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

spacetime memory


texto de Maria Leonor Barbosa Soares



Geometrias flexíveis

Do ser humano em relação consigo próprio para o ser humano em relação com o Mundo - é esta a tendência da reflexão da Evelina Oliveira já presente na série “Habitáculos do ser” e que actualmente se afirma de desenvolve em “Contaminações”.
A instalação aborda, numa perspectiva poética, o tema de importância relativa do ser humano entre as várias formas de existência, revendo o ser lugar e o seu papel, pensando sobre o que de facto é ou pode ser, aparte todas as pretensões de domínio ou aparatos de cimento. Fica subentendida a importância da consciência da sua integração plena na natureza, sabendo ser apenas uma parte dela, desistindo do exercício de controle para adoptar uma atitude de atenção e aceitação da imprevisibilidade.
Essa atitude de curiosidade e disponibilidade, recusando interpretações definitivas, permitirá perceber a multiplicidade de factores em interacção permanente na natureza, sob formas frequentemente subtis ou atender aos códigos utilizados pelos outros seres vivos, valorizando-os. Uma aproximação á compreensão da harmonia global implica a noção de que cada elemento afecta todos os outros e qualquer variação de estado ou comportamento dará origem a uma resposta imediata e imprevisível, com adaptação constante a novas circunstancias. A diversidade de sensações (visuais, tácteis, olfactivas, auditivas) provocadas pelos materiais e recursos de articulação usados na instalação, acorda-se com esta ideia.
As analogias que Evelina Oliveira estabelece entre formas vegetais, animais, minerais, microscópicas ou macroscópicas e os tecidos ou fragmentos do corpo humano, permitem apontar invariancias, identificar ritmos e padrões, motivos que se repetem, mantendo ou não constância na escala, ordenados ou desordenados, originando estruturas estáveis ou não… reflectem a permanente dialéctica entre o caos e a ordem.
O dinamismo de organização e desordem está também presente no conceito base do “berçário”: simultaneidade de ordem na construção formal do jardim de memórias, e desordem no turbilhão de energia, luz e calor da sugerida incubadora.
O cérebro e o coração, imagens recorrentes nos trabalhos desta série, podem ser entendidos como metáforas de sistemas dinâmicos particularmente sensíveis, com reacções intensas a qualquer fenómeno de interacção. Lugares do corpo com dualidade simbólica, convivendo no abismo e na violência, é lá igualmente que se aprendem e apreendem coisas simples e complexas, se formam os projectos de harmonia, as percepções globalizantes, a compreensão do sentido do amor do prazer, das pequenas delicias como um cheiro, um som, uma cor, o movimento de uma folha na aragem…

playng nature - from "Space time geometric memory"







the blues in my heart


work in process